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"Sou daquelas almas que as mulheres dizem que amam, e nunca reconhecem quando encontram, daquelas que, se elas as reconhecessem, mesmo assim não as reconheceriam. Sofro a delicadeza dos meus sentimentos com uma atenção desdenhosa. Tenho todas as qualidades, pelas quais são admirados os poeta românticos, mesmo aquela falta dessas qualidades, pela qual se é realmente poeta romântico. Encontro-me descrito (em parte) em vários romances como protagonista de vários enredos; mas o essencial da minha vida, como da minha alma, é não ser nunca protagonista." (Fernando Pessoa)

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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Se perguntarem por mim digam que voei.

As palavras que solto na voz são como ecos de mil lugares. Ou de um só lugar? Perdi-me nas entrelinhas dos meus perpétuos despertares e adormecimentos. Com lápis de cera e um papel usado desenhei o mundo à minha imagem. E ele era de planícies e a praia ali a um passo, e era os reflexos do mar à noite e a noite imensa dentro de mim. E era como uma vontade de ir mais além sem saber do chão que vou pisando, até chegar onde não existe mais chão porque o chão fui eu que inventei um dia para nunca mais cair no chão que não havia. Não existe chão agora, nem tetos ou muralhas. Apenas o horizonte e o acordar que cheira a café com leite e à nostalgia de que os sonhos são feitos. E sorrir sem saber por que.

E as minhas incompreensões são como ecos de mil lugares. Ou de um só lugar. Onde as ondas afagam gestos que nunca foram tão meus como os sinto agora pertencerem-me. É a calma de um mar que acolhe os meus destroços. E escrevo-me de novo num tempo dócil em que as palavras corriam sem se gastarem. E sou eu refletido num violão que inventei na ponta dos dedos, em notas soltas de uma musica que já quase sei de cor. Existe sempre alguém que canta outra canção. Espero pacientemente a próxima partitura, espero ler no meio dela, verso a verso, o meu próprio coração.




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