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"Sou daquelas almas que as mulheres dizem que amam, e nunca reconhecem quando encontram, daquelas que, se elas as reconhecessem, mesmo assim não as reconheceriam. Sofro a delicadeza dos meus sentimentos com uma atenção desdenhosa. Tenho todas as qualidades, pelas quais são admirados os poeta românticos, mesmo aquela falta dessas qualidades, pela qual se é realmente poeta romântico. Encontro-me descrito (em parte) em vários romances como protagonista de vários enredos; mas o essencial da minha vida, como da minha alma, é não ser nunca protagonista." (Fernando Pessoa)

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sexta-feira, 7 de maio de 2010

Primeiro sofrimento

Meu primeiro sentimento foi Roberta. Eu tinha 12 anos e sentia na carne o sofrimento de querer e não ter.
Na escola, olhar Roberta era reconfortar minha alma, tocar de leve suas mãos numa troca de caderno, pegar sua caneta no chão, ver seu nome escrito numa prova que porventura passasse por mim, era só um pouco e me fazia tanto bem. E guardar isso era injusto, pesado, dolorido.
Eu ensaiava palavras no espelho de casa, criava enredos, mentia respostas, pra tudo se acabar no dia seguinte, patético e calado ao ver Roberta entrar na classe quase levitando com sua saia rodada, com seu corpo de mulher num rosto de menina.
E cada vez mais insuportável, agonia que me queimava o peito, destruía meu viver, torturava minhas noites, aquilo não podia continuar.
Foi no final de uma aula de educação física, eu sabia que Roberta estava lá, esperei o sinal e a chamei:
- Roberta... - Ela me olhou e sorriu:
- Oi!
Não sei se ela disse meu nome, acho que sim, hoje é confuso pensar nisso. Respirei e falei tudo que decorei e nunca consegui:
- Eu quero falar com você...preciso te contar...quero te pedir uma coisa.
A menina sorriu de novo e agora foi diferente, ela me olhou nos olhos, quase morri, quis fugir, quis cair morto pra aquilo acabar, Roberta perguntou:
- Fala o que você quer?
- Sabe... Acho melhor não, olha, deixa pra lá, era uma coisa boba... – Falei fraco e covarde já me afastando, derrotado. A menina deu então dois passinhos rápidos e me segurou as mãos:
- Fala o que você quer!
Ainda me lembro do cheiro de chiclete que vinha de sua boca, seus lábios rosados e brilhantes, suas sardas, seus olhos curiosos:
- É que eu tenho uma coisa pra te falar - Eu repeti de novo essa frase, pensei enlouquecendo enquanto tentava terminar, Roberta foi aproximando perigosamente seu rosto, eu estou muito próximo –... Eu quero te pedir algo e não sei se devo... – Falei quase suspirando, a menina insistiu num flerte que quase me violentava os olhos:
- Pede...
Respirei e senti o suor de minhas mãos se misturarem com o dela, era tão fácil e tão complicado, e se ela me respondesse não? E se eu perguntasse outro dia, e se eu pedisse outra hora, que coisa isso, vou fazer de conta que não sou eu e falar, não vai custar nada:
- Roberta... Dá-me um beijo?
Ela não respondeu nada, foi embora, eu fiquei ali parado.
INVELHOWETRUST
Foi muito difícil esquecer Roberta, mas consegui depois de algum tempo.
Hoje tenho 23 anos, sou mais experiente, mais esperto, sei que deveria ter pedido só um abraço, fui muito afoito naquele dia, 25 de agosto de 1998, coisa do passado, eu nem lembrava mais.
Mas superei isso, não preciso da Roberta, tenho um notebook, um desktop e 40 seguidores no Twitter, sou um vencedor.
X
E se você, minha doce Roberta, também lê meu blog, me add no MSN ou me envie um e-mail, não te achei no orkut, já procurei em toda rede. Eu não me casei, mas estou pensando em me casar, cometi erro, eu sei, mas posso corrigir tanta coisa, tenho tanto pra te dizer...

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