Talvez você

Queria te encontrar no meio da multidão. Que me viesse aos olhos e me levasse contigo. 


Saio à rua. A chuva mergulha em queda livre direta sobre as pedras da calçada onde se desfaz e dissolve em poças que já foram gotas. Estamos em Setembro e o frio já está indo embora, mas ainda me faz sentir uma dor profunda em meu corpo enquanto a chuva não penetra pelas minhas roupas. As pessoas vivem com pressa, do carro para o metro, próxima estação?”

Neste movimento contínuo diferencio o seu rosto em meio a um cardume de gente agitada. Trazes os cabelos soltos – pouco usual em você, o que é que mudou? Aproximo-me. Não quero te dizer nada, não, não agora. Agora só quero ficar abraçado a você, fechar os olhos, sentir o teu corpo, a tua respiração no meu pescoço enquanto nos abraçamos – ficar, só ficar… O semáforo ficou verde, à medida que você se aproxima… merda! Eu ia jurar, ia jurar que era você, era o teu andar, o teu balançar de corpo, o som das tuas pulseiras que usa e anunciam a tua passagem. Era a tua pele, clara com um cheiro que ainda não identifico, mas que aprendi a decifrá-lo como seu. Eras tu, só que era você em meu pensamento. Novamente me pego sonhando com você me dando um beijo e dizendo “Estou aqui”… Só podia ser você, que me trouxeste de volta à vida, que me fizeste sentir o que já tinha desistido de sentir… Nesses últimos meses conto as horas desde a ultima hora em que ti vi. Hoje continuo contando, já passaram 3072 horas e 44 minutos, sem saber se em algum momento você vai voltar pra perto do meu coração, ainda que por uns dias ou minutos. Penso no que poderia ter feito diferente mas, do que me ocorre, nada te teria feito você mudar e aceitar uma vida ao meu lado. Se ao menos eu tivesse sido melhor, talvez seria você nesta chuva gelada que se agarra no corpo, talvez pudesse ser que fosse você.